Estes Conhecem a Nossa História
Tendo acompanhado o processo evolutivo da Companhia ao longo do tempo, tanto do ponto de vista tecnológico como comportamental,
Publicação:

LUIS ALBERTO DIAS DA COSTA
Antes de entrar na PROCERGS, o que tu fazias ?
Minha história é semelhante com as que já ouvimos de alguns colegas no PROCERGS comunica. Eu era estudante de engenharia, surgiu a oportunidade de trabalhar aqui na PROCERGS, e eu entrei. Comecei como perfurador de cartões. Tinha uma máquina aqui na PROCERGS, ali embaixo, perto do elevador, com cilindros, faziam furinhos circulares...
Concluíste o curso de Engenharia ?
Não. Não houve condições, pois a PROCERGS estava começando a crescer e exigia muito. Trabalhávamos muito, virávamos noites... era normal. Em seguida fui ocupando alguns cargos. Comecei como perfurador, depois passei para programação, uma subida bastante rápida. Claro que isso é uma responsabilidade muito grande e, consequentemente, trouxe ganho salarial também.
Como ficaste sabendo do concurso na PROCERGS ?
Pelo jornal. Eu vi no classificados da Zero Hora o anúncio pedindo profissionais para digitação de cartões. Já era PROCERGS, não era CEPED e não era economia mista ainda. Veio a ser economia mista quando eu já estava na Empresa.
És natural de...
Sou de Pelotas
Veio para Porto Alegre cedo ?
Eu vim para cá com dezoito anos, quando concluí o científico na época. A faculdade que eu queria não tinha em Pelotas. Em Pelotas só tinha Engenharia Civil e Mecânica. O que eu queria era Engenharia Eletrônica. Eu vim para cá com uma turminha... o Calvete, o nosso médico, veio junto...ele estudou muitos anos comigo... o Kleiton, da dupla Kleiton e Kledir...
Quando entraste na Companhia, tinhas ideia do que era um computador ?
Quando eu entrei na faculdade, no primeiro semestre, eu já tive envolvimento com linguagem de computação, na própria Engenharia. Eu estudava FORTRAN, COBOL, essas linguagens da época... então eu já tinha contato com algumas tecnologias.
Em que ano ingressaste na empresa ?
O concurso que eu fiz foi no final de 1972, mas nós ficamos - o pessoal que entrou comigo, o Décio inclusive - fazendo um aprendizado e olhando manuais para trabalhar na máquina. Na verdade, nós não éramos funcionários, nós estávamos analisando e estudando algumas coisas. Nós fomos admitidos realmente no dia 16 de abril de 1973.
Qual era o cargo ?
Eu acho que era Técnico em Transcrição.
Onde ficava a empresa ?
Na Caldas Junior 120, 12º andar.
Tinha alguma ideia do que era a atividade de perfuração de cartões ?
A gente tinha algumas cadeiras na Engenharia que falavam sobre todo o ciclo da informação, então quando eu perfurava um cartão, eu sabia que aquilo ali era proveniente de alguma informação de algum usuário... que ia para o computador para fazer uma validação... que ia fazer uma atualização de cadastro... a gente tinha uma certa base.
Recordas como era o ambiente de trabalho naquela época?
Era muito diferente do que é hoje. Havia uma separação muito forte entre a parte de análise e programação, tanto é que os analistas ocupavam o 13º andar do prédio do Banrisul e os programadores o 12º. O computador estava no 12º, os programadores e a digitação também... os analistas no 13º. Isso ocasionava um atraso muito grande na correção de problemas,. Naquela época, o analista recebia a informação via operação, e a repassava para a chefia de programação. Este, por sua vez, escolhia um programador para resolver os problemas. Essa rotina toda dava um tempo muito grande. Isso só veio a ser resolvido com uma das grandes mudanças que ocorreram na PROCERGS naquela época , que foi a criação do programador de manutenção.
O que mudou ?
Ele ficou responsável por toda aplicação. Antigamente, o chefe da programação escolhia para quem iria dar os programas... hoje podia ser para mim, amanhã para você... não tinha uma pessoa que criasse um vínculo com o sistema. No momento em que tu tem um programador de manutenção responsável pelo sistema, todo e qualquer problema era de sua responsabilidade. Essa foi a primeira grande mudança.
Qual foi a outra ?
Foi quando a empresa juntou os programadores e os analistas... aí se criou o que se chamou de produto na época. Eram grupos de pessoas que atendiam a uma determinada aplicação. Eu fui gerente de um desses grupos, responsável pelo produto contabilidade. Depois o conceito evoluiu para o termo divisão, no qual se atende um cliente e não mais a aplicação. Especificamente em relação a esta mudança, até hoje eu não sei se foi um ganho ou uma perda,... De vez em quando a gente sente essa necessidade de ter um especialista da aplicação. De qualquer maneira, foi uma grande evolução para a época.
Disseste anteriormente que os clientes enviavam relatórios referentes às suas atividades ?
Sim, chamava-se ficha de lote.
Eu gostaria de entender o processo...
Primeiro envia-se a ficha de lote, que era tipo uma ficha semelhante a essas de crediário que nós preenchemos. Quando essa ficha chegava aqui, o digitador trabalhava com ela. Ele tinha a máquina programada e sabia que da coluna um à coluna cinco era o número da conta,; da coluna seis à coluna vinte era o nome do cliente...
A digitação estava dentro do processo de perfuração ?
Sim. Depois apareceram umas máquinas, que já foi uma evolução, uma máquina da IBM que armazenava internamente via programa... ela guardava na memória tudo que era digitado. Ela só descarregava, ou seja, ela só perfurava quando apertasse uma determinada tecla, aí ela perfurava todo o cartão. Ela dava a possibilidade de tu retornar, porque senão o custo era muito alto e o material era celulose quase pura.
Como era essa máquina IBM ?
Era uma máquina grande, não lembro do código dela, mais ou menos o porte daquela que estava ali embaixo perto do elevador. Aquela que estava ali embaixo foi a que eu perfurei, cartão noventa colunas, perfurado em cima e embaixo.
Pronto os cartões, fazia a digitação e ia para a operação ...
Na Operação eles eram inseridos via leitura de cartões por um operador, e tinha um programa feito por um programador que determinava: leia o cartão no formato X. Aquele cartão que o operador colocou no escaninho era lido e dali o programa manipulava as informações.
Armazenava a informação ...
Validava e armazenava. Para não necessitar que na segunda vez tivesse que entrar com os cartões tudo novamente. Então era um processo inteligente, pois ele armazenava tudo que estava certo e jogava para fora aquilo que estava errado. Da próxima vez só entrava com que estava errado e o que estava certo ficava armazenado.
Ficaste por pouco tempo na perfuração ?
Sim, eu entrei em abril e fiquei até agosto, mais ou menos, depois eu passei para a Operação.
Na época da perfuração, tu lembras como era teu expediente ?
Eu trabalhava das 18h00 às 00h37, dava seis horas e uns quebradinhos - e era turno corrido.
Eram quantas pessoas ?
Eram umas seis ou sete. Mas além da perfuração neste setor, tinha a parte de contratualidades, que era a parte de críticas. Eu perfurava e esses cartões iam para a operação...um programa separava o que estava correto do que estava errado. Quem depois ia fazer o acerto: voltava depois para a sala de computador uma listagem, junto com todos os cartões, que ia para esse setor, basicamente era um setor único, aonde tinha digitação e conferência. Esse pessoal da conferência pegava os cartões e ficavam analisando os erros.
Qual era o cliente de porte da PROCERGS naquela época da perfuração ?
A secretaria da Fazenda, sempre.
Dentro da secretaria da Fazenda, qual era o principal produto?
Não lembro dos detalhes, mas deve ser alguma coisa relacionada à dívida ativa. Além da Secretaria da Fazenda tinha o DAER, com muitas infrações de trânsito.
Tu lembras qual desses clientes que dava mais erros, retrabalho, na época do cartão ?
Em termos de retrabalho, por causa do volume, a Caixa Estadual ...
Esse período que vocês ficavam trabalhando à noite, como era o ambiente ?
É completamente diferente do que é agora... era um esquema bem estilo colégio. O chefe da digitação ficava sentado em uma mesa só olhando, e o pessoal trabalhando.
Lembra de algum fato ...
Uma vez eu recebi uma advertência de uma colega minha. Eram os meus primeiros trabalhos... nada para denegrir, mas para levantar. Eu recém estava começando e ela me deu algumas dicas, do tipo: “ está errando demais” , a lei de formação estava dando problemas, era um toque a mais no programa ...
O teclado era do alfabeto normal ?
Era o mesmo. O que variava era a numeração... algumas máquinas tinham o zero embaixo e outras em cima.
Então para a pessoa trabalhar na perfuração, tinha que ter conhecimentos de datilografia ?
Tanto é que, uma das exigências para contratações de pessoas nessa área, era o números de toques.
Ficaste quanto tempo na Digitação ?
Foi de abril a agosto na Digitação, depois eu fui para a Operação.
A operação ficava no 12º andar ?
Era no 12º andar também e não era o Burroughs. Na época a PROCERGS tinha o Burroughs, que depois virou UNISYS. Mas não era o Burroughs que eu operei, eu operei um UNIVAC 1050.
Comparando com a Digitação, a Operação era mais tranquila ?
Realmente. Em termos de trabalho físico, a Operação era muito mais tranquila. Tu colocava uma fita magnética na unidade e ficava só controlando. Eventualmente, o programa te pedia alguma intervenção, daí tu ia lá e trocava a fita, acionava um outro botão.. Fora o fato da pessoa trabalhar praticamente sozinha, no período da noite... nem o chefe ficava lá.
As fitas magnéticas entravam em qual parte do processo ?
Dos cartões, que eram semelhantes a um cartão de loteria esportiva. Eles eram armazenados em fitas e as fitas tinham um leitor/gravador, algo semelhante a um armário... ali tu introduzia a fita e automaticamente se tinha todo o controle. O próprio hardware lia a fita.
Ficaste quanto tempo na Operação ?
Fiquei um ano. Fiquei de agosto de 73 a 74. Trabalhando de noite.
Tinha um chefe específico ?
Tinha o chefe da Operação. Um já é falecido, o Chemale, o outro, graças à Deus é muito amigo meu e está aposentado, morando em Magistério, José Clóvis Hatzemberguer.
Desse período trabalhando na Operação, lembras de algum acontecimento importante ?
Na Operação tem um fato que para mim foi bastante significativo... nessa época eu estava casado e minha esposa estava grávida, e como estava no final da gravidez, ela ia comigo para PROCERGS e ficava sentada na mesa do chefe, e eu ficava trabalhando... e se desse algum problema eu ficava de sobreaviso. Qualquer coisa eu saia dali e pedia para alguém me substituir. A minha filha nasceu bem nessa época, em que eu estava praticamente saindo da Operação.
Ficaste um ano na Operação, ainda naquele prédio ?
Ainda lá. Aí aconteceu uma situação que alterou a minha trajetória. Que foi um convênio que a PROCERGS fez com a prefeitura de Porto Alegre. Eles estavam precisando de alguns técnicos especializados na linguagem COBOL, que eu conhecia da Engenharia. Fizeram um convênio para que a PROCERGS fornecesse alguns técnicos e nós não tínhamos muitas pessoas para atender este convênio.
Entraste na jogada...
Sim, lembro que foi escolhido um colega nosso que era programador, outro que era analista e me convidaram... - e eu aceitei - e mais duas pessoas de fora. Quando terminou esse prazo, entre quatro e cinco meses, chegou o rapaz que estava coordenando a turma, falou que estavam todos aprovados e poderiam ser efetivados como programadores. Isso foi no final 1974 e início de 1975. Eu vim para cá em 1976 e a PROCERGS foi inaugurada em 1975. Eu era programador de manutenção, e eles não queriam que o pessoal da manutenção viesse direto para área dos computadores que estavam lá. Eles pegaram as turmas iniciais e colocaram aqui, e nós ficamos segurando a barra lá. Então por isso que nós viemos para cá em 76, mas o prédio aqui é de 75.
Ficaste quanto tempo na área de Programação ?
Eu estou até hoje. Depois que tu entra na parte de programação e análise, tu faz duas coisas juntas, concomitantes. É claro que tem pessoas que gostam mais da fase de projetos e não gostam de meter a mão na massa de programação. Eu já gosto. Sempre que aparece algum serviço de programação eu sou ficha um... Eu gosto dessa atividade e dá um retorno rápido... e eu tenho um pouco de ansiedade. Não só programação, mas essa vida de informática dá um retorno rápido e tu consegue levar isso em um bom nível.
Naquela época que começaste a trabalhar como programador, como era a complexidade dos problemas ?
O que é diferente de hoje para aquela época é que antes as tecnologias vinham e ficavam durante muito tempo. Não era a rotatividade que tem hoje. Hoje tu tá trabalhando em uma tecnologia qualquer, tipo Java, e daqui a pouco não é mais Java, é dotnet. Para pessoa que tem mais idade, é mais complicado acompanhar...
Qual a linguagem que vocês utilizavam nessa época ?
COBOL . É uma linguagem comercial que até hoje continua sendo utilizada aqui na PROCERGS. Naquela época, era a mais utilizada. Eu trabalhei com COBOL, e nos tempos dos Habitacionais, eu era o responsável pelo sistema de contabilidade, pois uma das minhas formações é de contador. Sou bacharel em ciências contábeis. Trabalhei nos Habitacionais, muito tempo vinculada à Caixa Economica, mas a linguagem já era Natural com Adabas.
É uma linguagem mais nova em relação ao Cobol ?
Sim. E agora eu estou trabalhando com bancos de dados SQL Server e também estou começando com o Oracle, mais da área gerencial. Agora eu estou responsável pelo sistema de informações gerenciais da CORSAN, uma ferramenta chamada SAN. E estou participando de uma equipe que vai implantar um outro produto bem mais avançado que o SAN, que é o produto “Cognos”, que já está começando a ser implantado.
Voltando ao passado, como era o teu envolvimento com cliente ?
Naquela época existia um formalismo bem maior do que hoje. Era raro um programador sair da PROCERGS para conversar com os clientes. Existia uma separação muito forte entre esses dois grupos, tanto é que, quando nós viemos para esse prédio, a programação era separada da análise por uma parede.
Por quê ?
Era uma continuação do processo que existia no prédio velho. Os programadores ficavam no 12º andar e os analistas no 13º. Aí teve alguém com uma boa idéia e resolveu mudar isso, e juntou o pessoal.
Com essa disposição ficou melhor ?
Com certeza. Tu discutia todos os problemas direto com o teu analista ou com o teu programador. Não precisava sair do lugar para poder falar com eles... era completamente diferente, além de criar uma intimidade bem maior e isso é altamente favorável para a resolução de sistemas e de problemas.
Lembra-se de algum fato que demonstre a rigidez dentro da Companhia ?
Teve uma época em que o cafezinho nós tomávamos nas mesas. Inicialmente a secretária fazia uma lista do que as pessoas queriam para o lanche... a servente ia até a lancheria e comprava os lanches, depois voltava com eles no carrinho e entregava na mesa.
Do ponto de vista tecnológico, o que tu poderia destacar como um divisor de águas na Companhia ?
A introdução dos micros foi uma revolução imensa. Antigamente nós trabalhávamos com fita magnética, com cartão, com K7, mas depois quando vieram os micros foi outro mundo, completamente diferente.
Ocorreu algum tipo de dificuldade de adaptação neste período ?
Não, eu até pensei que nós íamos ter uma dificuldade maior. Mas eu me lembro que os micros foram instalados e o pessoal em seguida começou a manuseá-los. Até porque eles eram um atrativo na época... antes nós não tínhamos acesso ao computador, era tudo via cartão, via digitação... de repente, você tem um micro só seu...era muita satisfação.
No inicio era só um computador grande ...
Era como se fosse um polvo, o computador era a cabeça e os funcionários os tentáculos.
Qual trabalho ou projeto que fizeste que consideras de maior relevância ?
Eu sempre fui um profissional de não aparecer muito... Eu gosto muito de trabalhar na retaguarda. Em 37 anos de PROCERGS, nunca tive uma indisposição com ninguém.
Tem algum trabalho que lhe tenha causado uma grande satisfação ?
Pelo trabalho que me deu, certamente a contabilidade da Corsan, em 1975. Esta empresa me deu uma satisfação muito grande nos últimos cinco ou seis anos, quando eu trabalhei com a ferramenta gerencial. É muito bom trabalhar com uma ferramenta dessas , pois tu vê que o cliente vai usar aquele resultado que tu está mostrando. Tu sabe que é um bom produto e é diferente de tu simplesmente cumprir a tua obrigação.
Depois de entregar os produtos para os clientes, vocês acompanham ?
Não apenas acompanhamos, nós ficamos de donos. A PROCERGS é a responsável pelo sistema. No momento que entregamos alguma coisa para o cliente, temos a missão de manter o produto.
Sempre foi uma marca da PROCERGS essa preocupação com o cliente...
Isso é uma grande característica da PROCERGS. O pessoal é extremamente responsável... é uma coisa que a gente consegue transmitir até para o pessoal novo que não vem com essa cultura. Não tem como fugir disso... ou eles fazem isso ou vão ter que trabalhar em outro lugar.
Recordas se mudou muito a visão que as pessoas têm da PROCERGS em relação ao passado ?
Naquela época a PROCERGS era muito menos conhecida do que é hoje. Não havia internet e a Companhia tinha uma atuação muito discreta, sem alarde, nem propaganda. O objetivo não era aparecer....
E hoje...
Vejo com bons olhos as iniciativas de marketing da Companhia, acho elas bastante positivas. Mostrar para a comunidade o que a gente é e o que estamos fazendo...
Passaste por vários setores... sempre trabalhou para os mesmos clientes ?
Sempre os mesmos não, mas nunca teve muita diferença. Trabalhei muitos anos com a Corsan, com a própria PROCERGS, Caixa Estadual, IPERGS... Os outros foram esporádicos, como por exemplo, a Companhia União - que não existe mais - CESA, Secretaria da Educação.
O que gosta de fazer fora da PROCERGS ?
Eu gosto de acompanhar futebol na televisão e, na sexta-feira, eu não perco o turfe. Eu já tive cavalo quando eu era criança, é uma atividade que eu gosto., é um hobby.
O que representa a PROCERGS na tua vida ?
O único emprego que eu tive foi esse aqui, e certamente se eu sair daqui, eu não vou trabalhar em outro lugar... a Empresa me deu praticamente tudo e foi extremamente justa comigo. Sempre que eu fiz um trabalho que merecia ser enaltecido, ela enalteceu, galguei todos os cargos que eu tinha que galgar.
Antes de entrar na PROCERGS, o que tu fazias ?
Minha história é semelhante com as que já ouvimos de alguns colegas no PROCERGS comunica. Eu era estudante de engenharia, surgiu a oportunidade de trabalhar aqui na PROCERGS, e eu entrei. Comecei como perfurador de cartões. Tinha uma máquina aqui na PROCERGS, ali embaixo, perto do elevador, com cilindros, faziam furinhos circulares...
Concluíste o curso de Engenharia ?
Não. Não houve condições, pois a PROCERGS estava começando a crescer e exigia muito. Trabalhávamos muito, virávamos noites... era normal. Em seguida fui ocupando alguns cargos. Comecei como perfurador, depois passei para programação, uma subida bastante rápida. Claro que isso é uma responsabilidade muito grande e, consequentemente, trouxe ganho salarial também.
Como ficaste sabendo do concurso na PROCERGS ?
Pelo jornal. Eu vi no classificados da Zero Hora o anúncio pedindo profissionais para digitação de cartões. Já era PROCERGS, não era CEPED e não era economia mista ainda. Veio a ser economia mista quando eu já estava na Empresa.
És natural de...
Sou de Pelotas
Veio para Porto Alegre cedo ?
Eu vim para cá com dezoito anos, quando concluí o científico na época. A faculdade que eu queria não tinha em Pelotas. Em Pelotas só tinha Engenharia Civil e Mecânica. O que eu queria era Engenharia Eletrônica. Eu vim para cá com uma turminha... o Calvete, o nosso médico, veio junto...ele estudou muitos anos comigo... o Kleiton, da dupla Kleiton e Kledir...
Quando entraste na Companhia, tinhas ideia do que era um computador ?
Quando eu entrei na faculdade, no primeiro semestre, eu já tive envolvimento com linguagem de computação, na própria Engenharia. Eu estudava FORTRAN, COBOL, essas linguagens da época... então eu já tinha contato com algumas tecnologias.
Em que ano ingressaste na empresa ?
O concurso que eu fiz foi no final de 1972, mas nós ficamos - o pessoal que entrou comigo, o Décio inclusive - fazendo um aprendizado e olhando manuais para trabalhar na máquina. Na verdade, nós não éramos funcionários, nós estávamos analisando e estudando algumas coisas. Nós fomos admitidos realmente no dia 16 de abril de 1973.
Qual era o cargo ?
Eu acho que era Técnico em Transcrição.
Onde ficava a empresa ?
Na Caldas Junior 120, 12º andar.
Tinha alguma ideia do que era a atividade de perfuração de cartões ?
A gente tinha algumas cadeiras na Engenharia que falavam sobre todo o ciclo da informação, então quando eu perfurava um cartão, eu sabia que aquilo ali era proveniente de alguma informação de algum usuário... que ia para o computador para fazer uma validação... que ia fazer uma atualização de cadastro... a gente tinha uma certa base.
Recordas como era o ambiente de trabalho naquela época?
Era muito diferente do que é hoje. Havia uma separação muito forte entre a parte de análise e programação, tanto é que os analistas ocupavam o 13º andar do prédio do Banrisul e os programadores o 12º. O computador estava no 12º, os programadores e a digitação também... os analistas no 13º. Isso ocasionava um atraso muito grande na correção de problemas,. Naquela época, o analista recebia a informação via operação, e a repassava para a chefia de programação. Este, por sua vez, escolhia um programador para resolver os problemas. Essa rotina toda dava um tempo muito grande. Isso só veio a ser resolvido com uma das grandes mudanças que ocorreram na PROCERGS naquela época , que foi a criação do programador de manutenção.
O que mudou ?
Ele ficou responsável por toda aplicação. Antigamente, o chefe da programação escolhia para quem iria dar os programas... hoje podia ser para mim, amanhã para você... não tinha uma pessoa que criasse um vínculo com o sistema. No momento em que tu tem um programador de manutenção responsável pelo sistema, todo e qualquer problema era de sua responsabilidade. Essa foi a primeira grande mudança.
Qual foi a outra ?
Foi quando a empresa juntou os programadores e os analistas... aí se criou o que se chamou de produto na época. Eram grupos de pessoas que atendiam a uma determinada aplicação. Eu fui gerente de um desses grupos, responsável pelo produto contabilidade. Depois o conceito evoluiu para o termo divisão, no qual se atende um cliente e não mais a aplicação. Especificamente em relação a esta mudança, até hoje eu não sei se foi um ganho ou uma perda,... De vez em quando a gente sente essa necessidade de ter um especialista da aplicação. De qualquer maneira, foi uma grande evolução para a época.
Disseste anteriormente que os clientes enviavam relatórios referentes às suas atividades ?
Sim, chamava-se ficha de lote.
Eu gostaria de entender o processo...
Primeiro envia-se a ficha de lote, que era tipo uma ficha semelhante a essas de crediário que nós preenchemos. Quando essa ficha chegava aqui, o digitador trabalhava com ela. Ele tinha a máquina programada e sabia que da coluna um à coluna cinco era o número da conta,; da coluna seis à coluna vinte era o nome do cliente...
A digitação estava dentro do processo de perfuração ?
Sim. Depois apareceram umas máquinas, que já foi uma evolução, uma máquina da IBM que armazenava internamente via programa... ela guardava na memória tudo que era digitado. Ela só descarregava, ou seja, ela só perfurava quando apertasse uma determinada tecla, aí ela perfurava todo o cartão. Ela dava a possibilidade de tu retornar, porque senão o custo era muito alto e o material era celulose quase pura.
Como era essa máquina IBM ?
Era uma máquina grande, não lembro do código dela, mais ou menos o porte daquela que estava ali embaixo perto do elevador. Aquela que estava ali embaixo foi a que eu perfurei, cartão noventa colunas, perfurado em cima e embaixo.
Pronto os cartões, fazia a digitação e ia para a operação ...
Na Operação eles eram inseridos via leitura de cartões por um operador, e tinha um programa feito por um programador que determinava: leia o cartão no formato X. Aquele cartão que o operador colocou no escaninho era lido e dali o programa manipulava as informações.
Armazenava a informação ...
Validava e armazenava. Para não necessitar que na segunda vez tivesse que entrar com os cartões tudo novamente. Então era um processo inteligente, pois ele armazenava tudo que estava certo e jogava para fora aquilo que estava errado. Da próxima vez só entrava com que estava errado e o que estava certo ficava armazenado.
Ficaste por pouco tempo na perfuração ?
Sim, eu entrei em abril e fiquei até agosto, mais ou menos, depois eu passei para a Operação.
Na época da perfuração, tu lembras como era teu expediente ?
Eu trabalhava das 18h00 às 00h37, dava seis horas e uns quebradinhos - e era turno corrido.
Eram quantas pessoas ?
Eram umas seis ou sete. Mas além da perfuração neste setor, tinha a parte de contratualidades, que era a parte de críticas. Eu perfurava e esses cartões iam para a operação...um programa separava o que estava correto do que estava errado. Quem depois ia fazer o acerto: voltava depois para a sala de computador uma listagem, junto com todos os cartões, que ia para esse setor, basicamente era um setor único, aonde tinha digitação e conferência. Esse pessoal da conferência pegava os cartões e ficavam analisando os erros.
Qual era o cliente de porte da PROCERGS naquela época da perfuração ?
A secretaria da Fazenda, sempre.
Dentro da secretaria da Fazenda, qual era o principal produto?
Não lembro dos detalhes, mas deve ser alguma coisa relacionada à dívida ativa. Além da Secretaria da Fazenda tinha o DAER, com muitas infrações de trânsito.
Tu lembras qual desses clientes que dava mais erros, retrabalho, na época do cartão ?
Em termos de retrabalho, por causa do volume, a Caixa Estadual ...
Esse período que vocês ficavam trabalhando à noite, como era o ambiente ?
É completamente diferente do que é agora... era um esquema bem estilo colégio. O chefe da digitação ficava sentado em uma mesa só olhando, e o pessoal trabalhando.
Lembra de algum fato ...
Uma vez eu recebi uma advertência de uma colega minha. Eram os meus primeiros trabalhos... nada para denegrir, mas para levantar. Eu recém estava começando e ela me deu algumas dicas, do tipo: “ está errando demais” , a lei de formação estava dando problemas, era um toque a mais no programa ...
O teclado era do alfabeto normal ?
Era o mesmo. O que variava era a numeração... algumas máquinas tinham o zero embaixo e outras em cima.
Então para a pessoa trabalhar na perfuração, tinha que ter conhecimentos de datilografia ?
Tanto é que, uma das exigências para contratações de pessoas nessa área, era o números de toques.
Ficaste quanto tempo na Digitação ?
Foi de abril a agosto na Digitação, depois eu fui para a Operação.
A operação ficava no 12º andar ?
Era no 12º andar também e não era o Burroughs. Na época a PROCERGS tinha o Burroughs, que depois virou UNISYS. Mas não era o Burroughs que eu operei, eu operei um UNIVAC 1050.
Comparando com a Digitação, a Operação era mais tranquila ?
Realmente. Em termos de trabalho físico, a Operação era muito mais tranquila. Tu colocava uma fita magnética na unidade e ficava só controlando. Eventualmente, o programa te pedia alguma intervenção, daí tu ia lá e trocava a fita, acionava um outro botão.. Fora o fato da pessoa trabalhar praticamente sozinha, no período da noite... nem o chefe ficava lá.
As fitas magnéticas entravam em qual parte do processo ?
Dos cartões, que eram semelhantes a um cartão de loteria esportiva. Eles eram armazenados em fitas e as fitas tinham um leitor/gravador, algo semelhante a um armário... ali tu introduzia a fita e automaticamente se tinha todo o controle. O próprio hardware lia a fita.
Ficaste quanto tempo na Operação ?
Fiquei um ano. Fiquei de agosto de 73 a 74. Trabalhando de noite.
Tinha um chefe específico ?
Tinha o chefe da Operação. Um já é falecido, o Chemale, o outro, graças à Deus é muito amigo meu e está aposentado, morando em Magistério, José Clóvis Hatzemberguer.
Desse período trabalhando na Operação, lembras de algum acontecimento importante ?
Na Operação tem um fato que para mim foi bastante significativo... nessa época eu estava casado e minha esposa estava grávida, e como estava no final da gravidez, ela ia comigo para PROCERGS e ficava sentada na mesa do chefe, e eu ficava trabalhando... e se desse algum problema eu ficava de sobreaviso. Qualquer coisa eu saia dali e pedia para alguém me substituir. A minha filha nasceu bem nessa época, em que eu estava praticamente saindo da Operação.
Ficaste um ano na Operação, ainda naquele prédio ?
Ainda lá. Aí aconteceu uma situação que alterou a minha trajetória. Que foi um convênio que a PROCERGS fez com a prefeitura de Porto Alegre. Eles estavam precisando de alguns técnicos especializados na linguagem COBOL, que eu conhecia da Engenharia. Fizeram um convênio para que a PROCERGS fornecesse alguns técnicos e nós não tínhamos muitas pessoas para atender este convênio.
Entraste na jogada...
Sim, lembro que foi escolhido um colega nosso que era programador, outro que era analista e me convidaram... - e eu aceitei - e mais duas pessoas de fora. Quando terminou esse prazo, entre quatro e cinco meses, chegou o rapaz que estava coordenando a turma, falou que estavam todos aprovados e poderiam ser efetivados como programadores. Isso foi no final 1974 e início de 1975. Eu vim para cá em 1976 e a PROCERGS foi inaugurada em 1975. Eu era programador de manutenção, e eles não queriam que o pessoal da manutenção viesse direto para área dos computadores que estavam lá. Eles pegaram as turmas iniciais e colocaram aqui, e nós ficamos segurando a barra lá. Então por isso que nós viemos para cá em 76, mas o prédio aqui é de 75.
Ficaste quanto tempo na área de Programação ?
Eu estou até hoje. Depois que tu entra na parte de programação e análise, tu faz duas coisas juntas, concomitantes. É claro que tem pessoas que gostam mais da fase de projetos e não gostam de meter a mão na massa de programação. Eu já gosto. Sempre que aparece algum serviço de programação eu sou ficha um... Eu gosto dessa atividade e dá um retorno rápido... e eu tenho um pouco de ansiedade. Não só programação, mas essa vida de informática dá um retorno rápido e tu consegue levar isso em um bom nível.
Naquela época que começaste a trabalhar como programador, como era a complexidade dos problemas ?
O que é diferente de hoje para aquela época é que antes as tecnologias vinham e ficavam durante muito tempo. Não era a rotatividade que tem hoje. Hoje tu tá trabalhando em uma tecnologia qualquer, tipo Java, e daqui a pouco não é mais Java, é dotnet. Para pessoa que tem mais idade, é mais complicado acompanhar...
Qual a linguagem que vocês utilizavam nessa época ?
COBOL . É uma linguagem comercial que até hoje continua sendo utilizada aqui na PROCERGS. Naquela época, era a mais utilizada. Eu trabalhei com COBOL, e nos tempos dos Habitacionais, eu era o responsável pelo sistema de contabilidade, pois uma das minhas formações é de contador. Sou bacharel em ciências contábeis. Trabalhei nos Habitacionais, muito tempo vinculada à Caixa Economica, mas a linguagem já era Natural com Adabas.
É uma linguagem mais nova em relação ao Cobol ?
Sim. E agora eu estou trabalhando com bancos de dados SQL Server e também estou começando com o Oracle, mais da área gerencial. Agora eu estou responsável pelo sistema de informações gerenciais da CORSAN, uma ferramenta chamada SAN. E estou participando de uma equipe que vai implantar um outro produto bem mais avançado que o SAN, que é o produto “Cognos”, que já está começando a ser implantado.
Voltando ao passado, como era o teu envolvimento com cliente ?
Naquela época existia um formalismo bem maior do que hoje. Era raro um programador sair da PROCERGS para conversar com os clientes. Existia uma separação muito forte entre esses dois grupos, tanto é que, quando nós viemos para esse prédio, a programação era separada da análise por uma parede.
Por quê ?
Era uma continuação do processo que existia no prédio velho. Os programadores ficavam no 12º andar e os analistas no 13º. Aí teve alguém com uma boa idéia e resolveu mudar isso, e juntou o pessoal.
Com essa disposição ficou melhor ?
Com certeza. Tu discutia todos os problemas direto com o teu analista ou com o teu programador. Não precisava sair do lugar para poder falar com eles... era completamente diferente, além de criar uma intimidade bem maior e isso é altamente favorável para a resolução de sistemas e de problemas.
Lembra-se de algum fato que demonstre a rigidez dentro da Companhia ?
Teve uma época em que o cafezinho nós tomávamos nas mesas. Inicialmente a secretária fazia uma lista do que as pessoas queriam para o lanche... a servente ia até a lancheria e comprava os lanches, depois voltava com eles no carrinho e entregava na mesa.
Do ponto de vista tecnológico, o que tu poderia destacar como um divisor de águas na Companhia ?
A introdução dos micros foi uma revolução imensa. Antigamente nós trabalhávamos com fita magnética, com cartão, com K7, mas depois quando vieram os micros foi outro mundo, completamente diferente.
Ocorreu algum tipo de dificuldade de adaptação neste período ?
Não, eu até pensei que nós íamos ter uma dificuldade maior. Mas eu me lembro que os micros foram instalados e o pessoal em seguida começou a manuseá-los. Até porque eles eram um atrativo na época... antes nós não tínhamos acesso ao computador, era tudo via cartão, via digitação... de repente, você tem um micro só seu...era muita satisfação.
No inicio era só um computador grande ...
Era como se fosse um polvo, o computador era a cabeça e os funcionários os tentáculos.
Qual trabalho ou projeto que fizeste que consideras de maior relevância ?
Eu sempre fui um profissional de não aparecer muito... Eu gosto muito de trabalhar na retaguarda. Em 37 anos de PROCERGS, nunca tive uma indisposição com ninguém.
Tem algum trabalho que lhe tenha causado uma grande satisfação ?
Pelo trabalho que me deu, certamente a contabilidade da Corsan, em 1975. Esta empresa me deu uma satisfação muito grande nos últimos cinco ou seis anos, quando eu trabalhei com a ferramenta gerencial. É muito bom trabalhar com uma ferramenta dessas , pois tu vê que o cliente vai usar aquele resultado que tu está mostrando. Tu sabe que é um bom produto e é diferente de tu simplesmente cumprir a tua obrigação.
Depois de entregar os produtos para os clientes, vocês acompanham ?
Não apenas acompanhamos, nós ficamos de donos. A PROCERGS é a responsável pelo sistema. No momento que entregamos alguma coisa para o cliente, temos a missão de manter o produto.
Sempre foi uma marca da PROCERGS essa preocupação com o cliente...
Isso é uma grande característica da PROCERGS. O pessoal é extremamente responsável... é uma coisa que a gente consegue transmitir até para o pessoal novo que não vem com essa cultura. Não tem como fugir disso... ou eles fazem isso ou vão ter que trabalhar em outro lugar.
Recordas se mudou muito a visão que as pessoas têm da PROCERGS em relação ao passado ?
Naquela época a PROCERGS era muito menos conhecida do que é hoje. Não havia internet e a Companhia tinha uma atuação muito discreta, sem alarde, nem propaganda. O objetivo não era aparecer....
E hoje...
Vejo com bons olhos as iniciativas de marketing da Companhia, acho elas bastante positivas. Mostrar para a comunidade o que a gente é e o que estamos fazendo...
Passaste por vários setores... sempre trabalhou para os mesmos clientes ?
Sempre os mesmos não, mas nunca teve muita diferença. Trabalhei muitos anos com a Corsan, com a própria PROCERGS, Caixa Estadual, IPERGS... Os outros foram esporádicos, como por exemplo, a Companhia União - que não existe mais - CESA, Secretaria da Educação.
O que gosta de fazer fora da PROCERGS ?
Eu gosto de acompanhar futebol na televisão e, na sexta-feira, eu não perco o turfe. Eu já tive cavalo quando eu era criança, é uma atividade que eu gosto., é um hobby.
O que representa a PROCERGS na tua vida ?
O único emprego que eu tive foi esse aqui, e certamente se eu sair daqui, eu não vou trabalhar em outro lugar... a Empresa me deu praticamente tudo e foi extremamente justa comigo. Sempre que eu fiz um trabalho que merecia ser enaltecido, ela enalteceu, galguei todos os cargos que eu tinha que galgar.