Estes Conhecem a Nossa História
A curiosidade de entender como as coisas funcionam, e um desejo "incontrolável" por consertar qualquer coisa com defeito que cai
Publicação:

És natural de qual cidade ?
Roca Sales, no Alto Taquari, região de Lajeado.
Time de coração ?
Grêmio. Mas não é time de coração... é de nascença, herdado do meu pai, que era gremista fanático.
Como foi tua infância em Roca Sales ?
Muito legal. Nos anos 50 e, principalmente nas cidades interioranas que não tinham tanto acesso às novidades das cidades grandes, a criançada era muito criativa para inventar brincaderias. E tínhamos uma coisa inimaginável nos dias de hoje: fora do período escolar, tínhamos a liberdade de andar por todos os cantos da cidade com apenas duas regras a serem cumpridas: estar em casa na hora do almoço e quando estava chegando o anoitecer. Mas eu gostava também de passar meu tempo sozinho fazendo "experiências" com os aparelhos elétricos, mecânicos e afins que tínhamos em casa. Como exemplo, adorava desmontar relógios de qualquer tipo (de pulso, de bolso, de parede, etc.) e depois remontá-los novamente, mas este último procedimento nem sempre dava certo. Meu pai geralmente tolerava essas minhas "experiências" com aparelhos que nem defeitos tinham, o que me permitiu explorar essas habilidades envolvendo mecânica, eletricidade e afins que certamente influenciaram minhas preferências profissionais.
Teus pais faziam o que ?
Meu pai, já falecido, era contador, o que hoje em dia seria o equivalente ao contabilista. Ainda criança, eu adorava quando ele me deixava fazer algumas tarefas mais simples do escritório de contabilidade. O meu gosto pela matemática certamente começou por aí. Minha mãe, que mora na mesma cidade até hoje, teve a nobre incumbência de criar a mim e a minha irmã em tempo integral, e até hoje, quando vamos visitá-la, ela continua fazendo isso.
E na juventude, quais eram os teus projetos pessoais ?
Desde guri sempre quis seguir a carreira de engenharia, muito a ver com aquelas "experiências" da minha infância, que continuaram vivas na minha adolescência.
Mais perto de entrar na PROCERGS, o que tu fazias ?
Eu estava fazendo a faculdade de engenharia elétrica (opção eletrônica) na UFRGS. Formei-me em dezembro de 1972. Antes disso, aos 15 anos de idade, deixei definitivamente minha terra natal para fazer o "cientifico", que hoje mais ou menos corresponde aos três últimos anos do segundo grau. Isso foi em São Leopoldo no colégio Sinodal, um colégio muito conceituado na época e que parece continuar assim até hoje, tomando como referência os últimos resultados das provas do ENEM, onde a instituição aparece entre as melhores do país.
Como ficaste sabendo do concurso da PROCERGS ?
No ano em que eu estava me formando, lá por junho de 72, um colega de faculdade comentou sobre um concurso para ingresso em uma entidade estatal na área de informática.
E te chamou a atenção...
Sim. Nos primeiros anos da faculdade eu não tinha a menor ideia do que era informática... e na verdade era uma área que pouca gente conhecia. Foram disponibilizadas no curso de engenharia algumas cadeiras opcionais que tratavam de linguagens de programação orientadas para engenharia. Fiz algumas e fiquei bastante impressionado com o que se podia fazer com tudo aquilo, mas ficou nisso mesmo e continuei a minha formação acadêmica tradicional até surgir essa oportunidade.
E como foi a prova da PROCERGS ?
Eu e mais alguns colegas da faculdade resolvemos participar do concurso. Acho que apareceram uns 500 ou mais candidatos. As provas foram feitas no prédio de engenharia. Foram várias provas, com muita ênfase aos chamados psicotestes.
Foram difíceis os testes?
Digamos que eu estava "bem treinado" para fazer esse tipo de prova. No tempo de faculdade, às vezes, fazia esse tipo de prova só por passatempo, dá para acreditar ? Para resumir, foram selecionados dezesseis candidatos.
E o passo seguinte ?
De outubro a novembro, recebemos um treinamento sobre conceitos fundamentais de informática e de linguagem de programação COBOL, uma linguagem comercial padrão da época que eu desconhecia completamente. Dessa turma foram selecionados quatro pessoas que foram contratados, incluindo aquele meu colega da faculdade que havia me falado sobre o concurso. Esses três colegas já há muito tempo saíram da PROCERGS.
Tentaste outro concurso além da PROCERGS ?
Sim, eu já tinha feito outros concursos. Um deles teve aspectos curiosos e aconteceu no mesmo ano de 1972. A Telepar, empresa de Telecomunicações do Paraná, estava se modernizando e tinha uma demanda muito grande de engenheiros de telecomunicações. Ela foi buscá-los nas universidades do Brasil, especificamente os formandos de engenharia eletrônica para fazer as conhecidas baterias de testes em Curitiba. Praticamente toda a nossa turma de formandos foi nessa. A Telepar fretou um ônibus e arcou com todas as despesas de estadia e alimentação durante os três dias de provas e outras atividades para conhecer a empresa. Essa viagem foi batizada pela nossa turma como a “Teletur”, pois tivemos muitos momentos de folga para fazer turismo.
Fale-nos um pouco do teu ingresso na PROCERGS...
Fomos contratados em Novembro de 1972. Naquela época a entidade de informática do Estado era o CEPED que foi extinta.Nasceu então a PROCERGS no final de dezembro de 1972, uma empresa de economia mista tendo o Estado como acionista majoritário.
E onde ficava a PROCERGS ?
A PROCERGS ficava no 12º andar do prédio matriz do Banrisul, na Caldas Junior. Lá estavam instalados os computadores, que na época processavam a folha de pagamento do Estado, além de outras funções que não lembro porque nem cheguei a me envolver com elas.
E do ponto de vista tecnológico...
Na época, o Estado precisava aumentar o parque de equipamentos para atender a demanda que estava crescendo muito. Fizeram licitação e a empresa que venceu foi a Burroughs, que hoje é a conhecida Unisys. O equipamento era um B6700, uma máquina de primeira linha e muito poderosa na época. Ocupava uma área enorme que consumia quantidades enormes de energia, incluindo um sistema de ar condicionado compatível. E pensar que em termos de capacidade computacional hoje perderia de longe para um simples notebook....
E a memória dessa máquina...
Era baseada em tecnologia de “núcleos de ferrite”, que resumidamente consistia em pequenos anéis de aproximadamente 1 mm de diâmetro, nos quais passavam vários condutores metálicos que tinham a função de imantá-los em um ou outro sentido e assim reproduzir um bit ligado ou desligado, um princípio básico de lógica computacional que continua sendo usado até hoje em todos os equipamentos de informática. A montagem dessas memórias era um trabalho totalmente artesanal. O tamanho dessa memória ? Se não me engano esse B6700 chegou a ter 512 KWords (cada Word com 48 bits), impressionante na época.
Qual era a principal demanda de vocês naquele começo de atuação na PROCERGS ?
Foi um sistema de folha de pagamento para a CORSAN. Na verdade, esse produto e o treinamento COBOL que eu e meus 3 colegas recebemos durante a fase de seleção final fazia parte do contrato de aquisição do B6700, e foram realizadas com a orientação de profissionais da própria Burroughs.
A partir de que momento ficaram sabendo desta demanda?
Logo que ingressamos. De cara fomos apresentados ao grupo de pessoas da CORSAN responsável pela folha de pagamento, que era totalmente mecanizada na época. O produto ficou pronto depois de uns 6 meses e foi utilizado por vários anos, até ser substituído por um sistema de folha de pagamento padronizado que podia ser customizado para as necessidades específicas de cada cliente.
Tu fazias a programação ?
Sim, o meu primeiro cargo na Companhia foi de programador COBOL. Uma particularidade desse período inicial na Companhia é que quando iniciamos os trabalhos para a CORSAN, o B6700 ainda não estava instalado. Com isso, pelo menos por uns 6 meses, eu acho, tivemos que utilizar os recursos computacionais da UFRGS, que a pouco tempo tinha adquirido um equipamento idêntico para o seu novo CPD ali ao lado do Hospital de Clínicas. O detalhe é que esse sistema estava disponível para a PROCERGS somente durante a noite.
Qual turno tu trabalhavas ?
O meu dia de trabalho começava de tarde na PROCERGS preparando os trabalhos a serem processados de noite no CPD da UFRGS. Muitas vezes saía de lá com o dia amanhecendo.
Fazias isso todos os dias ?
Praticamente todos os dias. Eram outros tempos, éramos jovens e fazíamos isso com a maior naturalidade.Cheguei a trabalhar na área de análise de sistemas, mas por pouco tempo. O anos 1975 e 76 foram um ponto de referência em relação a tudo que envolveria minha atuação profissional na Companhia a partir de então.
O que aconteceu ?
Até aquela época, a entrada de dados para os computadores era realizada através de cartões perfurados, conhecidos por cartões de 80 colunas, cartão IBM ou holerite. Os dois últimos nomes vinham respectivamente da empresa que os inventou e o sobrenome do cientista da IBM, que o projetou. Como curiosidade ainda hoje o termo holerite é usado para designar o contracheque que recebes todos os meses.
O que aconteceu em 1975 é que começaram a surgir os primeiros equipamentos dotados de monitor de imagens e teclado que permitiam a entrada de dados para alimentar e interagir com o sistema. Inicialmente eram máquinas ligadas diretamente ao computador e, portanto, restritas ao ambiente de trabalho. Mas isso logo mudou, permitindo que essa comunicação se fizesse a partir de locais remotos com o uso de interfaces convenientes, os conhecidos modens, que guardadas as proporções tecnológicas, são os mesmos equipamentos que muitos hoje têm em casa para acessar a Internet via serviços de telefonia.
Foi nesse período que entrei para a área de “teleprocessamento” como era chamada na época esta nova tecnologia, onde eu atuei na manutenção e suporte por pelo menos uns 15 anos.
E depois disso ?
Essa tecnologia evoluiu muito e tornou-se mais complexa, a tal ponto de hoje ser administrada por várias equipes atuando em vários níveis de especialização. Falar de todas as minhas atividades nesses quase 38 anos de Companhia seria impossível numa entrevista, mas, para resumir, eu diria que a maior parte do tempo estive em áreas relacionadas ao ambiente de suporte operacional, e hoje o meu foco principal é na área de comunicação interpessoal à distância, tais como videoconferência, divulgação de mídias ao vivo e por demanda e assuntos relacionados.
Quais foram as tuas impressões quando vieste trabalhar na PROCERGS ?
Eu tive uma entrevista com o Sr. Pacheco, que ficou com a tarefa de dar as boas-vindas para a gurizada que estava chegando. Aquela entrevista foi muito importante, acho que nesse momento ficou claro para mim o que eu podia esperar da empresa e em contrapartida o que ela esperava de mim.
Como era a relação com teus colegas ?
Era muito boa. Um fator que ajudava muito nesse relacionamento era o fato de ser uma empresa que acabara de nascer, com um Corpo Funcional bem reduzido.
Tinha muita rigidez no trabalho naquela época ?
Na minha opinião, nada que eu considerasse exagero, com exceção de uma exigência que, realmente, eu abominava: a obrigatoriedade do uso da gravata, uma imposição que perdurou por muito tempo na PROCERGS para todos os funcionários, independente de posição funcional. Havia uma única exceção aos funcionários que operavam as impressoras, cujo mecanismo de impressão era um cilindro enorme que girava em alta velocidade num local não muito protegido onde a gravata poderia se enroscar e causar um acidente com consequências que vocês podem imaginar.
Lembra-se quem era a tua chefia ?
O primeiro chefe a gente não esquece: o Dickie. Ele era bastante liberal mas quando a coisa saía do controle não era muito agradável ter que ouvir o sermão dele...
Quais os momentos mais importantes que tu considera ter vivido na Companhia ?
Fora os eventos já descritos, citaria a mudança da PROCERGS da Caldas Junior para a nova sede que ocupamos até hoje. Isso permitiu a expansão da Companhia e ser o que hoje ela é, uma referência nacional, e, sem dúvida alguma, fruto da dedicação do seu Corpo Funcional.
Roca Sales, no Alto Taquari, região de Lajeado.
Time de coração ?
Grêmio. Mas não é time de coração... é de nascença, herdado do meu pai, que era gremista fanático.
Como foi tua infância em Roca Sales ?
Muito legal. Nos anos 50 e, principalmente nas cidades interioranas que não tinham tanto acesso às novidades das cidades grandes, a criançada era muito criativa para inventar brincaderias. E tínhamos uma coisa inimaginável nos dias de hoje: fora do período escolar, tínhamos a liberdade de andar por todos os cantos da cidade com apenas duas regras a serem cumpridas: estar em casa na hora do almoço e quando estava chegando o anoitecer. Mas eu gostava também de passar meu tempo sozinho fazendo "experiências" com os aparelhos elétricos, mecânicos e afins que tínhamos em casa. Como exemplo, adorava desmontar relógios de qualquer tipo (de pulso, de bolso, de parede, etc.) e depois remontá-los novamente, mas este último procedimento nem sempre dava certo. Meu pai geralmente tolerava essas minhas "experiências" com aparelhos que nem defeitos tinham, o que me permitiu explorar essas habilidades envolvendo mecânica, eletricidade e afins que certamente influenciaram minhas preferências profissionais.
Teus pais faziam o que ?
Meu pai, já falecido, era contador, o que hoje em dia seria o equivalente ao contabilista. Ainda criança, eu adorava quando ele me deixava fazer algumas tarefas mais simples do escritório de contabilidade. O meu gosto pela matemática certamente começou por aí. Minha mãe, que mora na mesma cidade até hoje, teve a nobre incumbência de criar a mim e a minha irmã em tempo integral, e até hoje, quando vamos visitá-la, ela continua fazendo isso.
E na juventude, quais eram os teus projetos pessoais ?
Desde guri sempre quis seguir a carreira de engenharia, muito a ver com aquelas "experiências" da minha infância, que continuaram vivas na minha adolescência.
Mais perto de entrar na PROCERGS, o que tu fazias ?
Eu estava fazendo a faculdade de engenharia elétrica (opção eletrônica) na UFRGS. Formei-me em dezembro de 1972. Antes disso, aos 15 anos de idade, deixei definitivamente minha terra natal para fazer o "cientifico", que hoje mais ou menos corresponde aos três últimos anos do segundo grau. Isso foi em São Leopoldo no colégio Sinodal, um colégio muito conceituado na época e que parece continuar assim até hoje, tomando como referência os últimos resultados das provas do ENEM, onde a instituição aparece entre as melhores do país.
Como ficaste sabendo do concurso da PROCERGS ?
No ano em que eu estava me formando, lá por junho de 72, um colega de faculdade comentou sobre um concurso para ingresso em uma entidade estatal na área de informática.
E te chamou a atenção...
Sim. Nos primeiros anos da faculdade eu não tinha a menor ideia do que era informática... e na verdade era uma área que pouca gente conhecia. Foram disponibilizadas no curso de engenharia algumas cadeiras opcionais que tratavam de linguagens de programação orientadas para engenharia. Fiz algumas e fiquei bastante impressionado com o que se podia fazer com tudo aquilo, mas ficou nisso mesmo e continuei a minha formação acadêmica tradicional até surgir essa oportunidade.
E como foi a prova da PROCERGS ?
Eu e mais alguns colegas da faculdade resolvemos participar do concurso. Acho que apareceram uns 500 ou mais candidatos. As provas foram feitas no prédio de engenharia. Foram várias provas, com muita ênfase aos chamados psicotestes.
Foram difíceis os testes?
Digamos que eu estava "bem treinado" para fazer esse tipo de prova. No tempo de faculdade, às vezes, fazia esse tipo de prova só por passatempo, dá para acreditar ? Para resumir, foram selecionados dezesseis candidatos.
E o passo seguinte ?
De outubro a novembro, recebemos um treinamento sobre conceitos fundamentais de informática e de linguagem de programação COBOL, uma linguagem comercial padrão da época que eu desconhecia completamente. Dessa turma foram selecionados quatro pessoas que foram contratados, incluindo aquele meu colega da faculdade que havia me falado sobre o concurso. Esses três colegas já há muito tempo saíram da PROCERGS.
Tentaste outro concurso além da PROCERGS ?
Sim, eu já tinha feito outros concursos. Um deles teve aspectos curiosos e aconteceu no mesmo ano de 1972. A Telepar, empresa de Telecomunicações do Paraná, estava se modernizando e tinha uma demanda muito grande de engenheiros de telecomunicações. Ela foi buscá-los nas universidades do Brasil, especificamente os formandos de engenharia eletrônica para fazer as conhecidas baterias de testes em Curitiba. Praticamente toda a nossa turma de formandos foi nessa. A Telepar fretou um ônibus e arcou com todas as despesas de estadia e alimentação durante os três dias de provas e outras atividades para conhecer a empresa. Essa viagem foi batizada pela nossa turma como a “Teletur”, pois tivemos muitos momentos de folga para fazer turismo.
Fale-nos um pouco do teu ingresso na PROCERGS...
Fomos contratados em Novembro de 1972. Naquela época a entidade de informática do Estado era o CEPED que foi extinta.Nasceu então a PROCERGS no final de dezembro de 1972, uma empresa de economia mista tendo o Estado como acionista majoritário.
E onde ficava a PROCERGS ?
A PROCERGS ficava no 12º andar do prédio matriz do Banrisul, na Caldas Junior. Lá estavam instalados os computadores, que na época processavam a folha de pagamento do Estado, além de outras funções que não lembro porque nem cheguei a me envolver com elas.
E do ponto de vista tecnológico...
Na época, o Estado precisava aumentar o parque de equipamentos para atender a demanda que estava crescendo muito. Fizeram licitação e a empresa que venceu foi a Burroughs, que hoje é a conhecida Unisys. O equipamento era um B6700, uma máquina de primeira linha e muito poderosa na época. Ocupava uma área enorme que consumia quantidades enormes de energia, incluindo um sistema de ar condicionado compatível. E pensar que em termos de capacidade computacional hoje perderia de longe para um simples notebook....
E a memória dessa máquina...
Era baseada em tecnologia de “núcleos de ferrite”, que resumidamente consistia em pequenos anéis de aproximadamente 1 mm de diâmetro, nos quais passavam vários condutores metálicos que tinham a função de imantá-los em um ou outro sentido e assim reproduzir um bit ligado ou desligado, um princípio básico de lógica computacional que continua sendo usado até hoje em todos os equipamentos de informática. A montagem dessas memórias era um trabalho totalmente artesanal. O tamanho dessa memória ? Se não me engano esse B6700 chegou a ter 512 KWords (cada Word com 48 bits), impressionante na época.
Qual era a principal demanda de vocês naquele começo de atuação na PROCERGS ?
Foi um sistema de folha de pagamento para a CORSAN. Na verdade, esse produto e o treinamento COBOL que eu e meus 3 colegas recebemos durante a fase de seleção final fazia parte do contrato de aquisição do B6700, e foram realizadas com a orientação de profissionais da própria Burroughs.
A partir de que momento ficaram sabendo desta demanda?
Logo que ingressamos. De cara fomos apresentados ao grupo de pessoas da CORSAN responsável pela folha de pagamento, que era totalmente mecanizada na época. O produto ficou pronto depois de uns 6 meses e foi utilizado por vários anos, até ser substituído por um sistema de folha de pagamento padronizado que podia ser customizado para as necessidades específicas de cada cliente.
Tu fazias a programação ?
Sim, o meu primeiro cargo na Companhia foi de programador COBOL. Uma particularidade desse período inicial na Companhia é que quando iniciamos os trabalhos para a CORSAN, o B6700 ainda não estava instalado. Com isso, pelo menos por uns 6 meses, eu acho, tivemos que utilizar os recursos computacionais da UFRGS, que a pouco tempo tinha adquirido um equipamento idêntico para o seu novo CPD ali ao lado do Hospital de Clínicas. O detalhe é que esse sistema estava disponível para a PROCERGS somente durante a noite.
Qual turno tu trabalhavas ?
O meu dia de trabalho começava de tarde na PROCERGS preparando os trabalhos a serem processados de noite no CPD da UFRGS. Muitas vezes saía de lá com o dia amanhecendo.
Fazias isso todos os dias ?
Praticamente todos os dias. Eram outros tempos, éramos jovens e fazíamos isso com a maior naturalidade.Cheguei a trabalhar na área de análise de sistemas, mas por pouco tempo. O anos 1975 e 76 foram um ponto de referência em relação a tudo que envolveria minha atuação profissional na Companhia a partir de então.
O que aconteceu ?
Até aquela época, a entrada de dados para os computadores era realizada através de cartões perfurados, conhecidos por cartões de 80 colunas, cartão IBM ou holerite. Os dois últimos nomes vinham respectivamente da empresa que os inventou e o sobrenome do cientista da IBM, que o projetou. Como curiosidade ainda hoje o termo holerite é usado para designar o contracheque que recebes todos os meses.
O que aconteceu em 1975 é que começaram a surgir os primeiros equipamentos dotados de monitor de imagens e teclado que permitiam a entrada de dados para alimentar e interagir com o sistema. Inicialmente eram máquinas ligadas diretamente ao computador e, portanto, restritas ao ambiente de trabalho. Mas isso logo mudou, permitindo que essa comunicação se fizesse a partir de locais remotos com o uso de interfaces convenientes, os conhecidos modens, que guardadas as proporções tecnológicas, são os mesmos equipamentos que muitos hoje têm em casa para acessar a Internet via serviços de telefonia.
Foi nesse período que entrei para a área de “teleprocessamento” como era chamada na época esta nova tecnologia, onde eu atuei na manutenção e suporte por pelo menos uns 15 anos.
E depois disso ?
Essa tecnologia evoluiu muito e tornou-se mais complexa, a tal ponto de hoje ser administrada por várias equipes atuando em vários níveis de especialização. Falar de todas as minhas atividades nesses quase 38 anos de Companhia seria impossível numa entrevista, mas, para resumir, eu diria que a maior parte do tempo estive em áreas relacionadas ao ambiente de suporte operacional, e hoje o meu foco principal é na área de comunicação interpessoal à distância, tais como videoconferência, divulgação de mídias ao vivo e por demanda e assuntos relacionados.
Quais foram as tuas impressões quando vieste trabalhar na PROCERGS ?
Eu tive uma entrevista com o Sr. Pacheco, que ficou com a tarefa de dar as boas-vindas para a gurizada que estava chegando. Aquela entrevista foi muito importante, acho que nesse momento ficou claro para mim o que eu podia esperar da empresa e em contrapartida o que ela esperava de mim.
Como era a relação com teus colegas ?
Era muito boa. Um fator que ajudava muito nesse relacionamento era o fato de ser uma empresa que acabara de nascer, com um Corpo Funcional bem reduzido.
Tinha muita rigidez no trabalho naquela época ?
Na minha opinião, nada que eu considerasse exagero, com exceção de uma exigência que, realmente, eu abominava: a obrigatoriedade do uso da gravata, uma imposição que perdurou por muito tempo na PROCERGS para todos os funcionários, independente de posição funcional. Havia uma única exceção aos funcionários que operavam as impressoras, cujo mecanismo de impressão era um cilindro enorme que girava em alta velocidade num local não muito protegido onde a gravata poderia se enroscar e causar um acidente com consequências que vocês podem imaginar.
Lembra-se quem era a tua chefia ?
O primeiro chefe a gente não esquece: o Dickie. Ele era bastante liberal mas quando a coisa saía do controle não era muito agradável ter que ouvir o sermão dele...
Quais os momentos mais importantes que tu considera ter vivido na Companhia ?
Fora os eventos já descritos, citaria a mudança da PROCERGS da Caldas Junior para a nova sede que ocupamos até hoje. Isso permitiu a expansão da Companhia e ser o que hoje ela é, uma referência nacional, e, sem dúvida alguma, fruto da dedicação do seu Corpo Funcional.